Jackson de Jesus

... leio e escrevo {códigos}, poesia, (receitas) e prosa...

Alternar entre modo claro ou escuro


Sobre passagens…

Sempre que perguntam minha idade, só penso como resposta meus dias que somam a menos…

… amanhã, completo 44 órbitas em torno do Sol. Lembrar com antecedência dessa data é um fato recente, mesmo tendo uma irmã caçula que também caiu numa placenta na mesma data, porém, numa região diferente do espaço (quando ela era pequena, acreditava que éramos gêmeos, risos). Isso me lembra que, até um dia desses, também acreditávamos na passagem de um ano para outro, a gente voltava para o mesmo ponto que passamos um ano antes. Acontece que essa visão do nosso sistema solar já não corresponde mais à realidade observável.

Atualmente, sabemos que nosso sistema também é arrastado pelo Sol em seu movimento de translação ao redor de Sagittarius A* (lemos Sagittarius A-estrela), o buraco negro super massivo (que não é um ralo que suga tudo) localizado no centro de nossa galáxia, a Via Láctea (acredita-se que todas as galáxias possuem os seus). É como se nossa casa estivesse numa rua girando num disco de vinil de uma antiga vitrola, mas a vitrola está sendo arremessada de janelas de carros em movimentos! Escrevi essa “palestrinha” apenas para dizer algo que os povos antigos já sabiam e Heráclito (os gregos sempre ficando com os créditos) resumiu bem: “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio.”, ou seja, nada, nem o tempo, nem o espaço são os mesmos desde a última vez que a Terra completou sua órbita em torno de nossa querida estrelinha que brilha, brilha, o Sol.

Visão atual do nosso sistema solar…

“Nada tão prático como uma boa teoria.” Kurt Lewin.

As datas são importantes para nós, talvez porque representem regularidades e, como criaturas ansiosas que atualmente somos, regularidade é algo que precisamos para viver bem. Infelizmente, para alguns, regularidade às vezes pode ser um privilégio. Hoje, nas vésperas de uma data significativa, me encontro na situação em que perdi tudo o que achei que tinha. Isso me levou a um livro chamado “Talvez você deva conversar com alguém…”, da Lori Gottlieb, que por sua vez me fez descobrir um ensaio chamado “Bem-vindo à Holanda”, da Emily Perl Kingsley (gostaria que vocês pegassem as referências, as metafóricas, mas literalmente falando também, risos).

Neste ensaio é apresentada a situação de alguém que se planejou por muito tempo para viajar à Itália, mas por um acaso do destino acaba pousando na Holanda! A moral da estória tem a ver com como lidamos com mudanças inesperadas: aceitamos e nos adaptamos ao novo ou lamentamos e permanecemos presos no passado das possibilidades perdidas? A resposta parece óbvia, mas a gente sabe que, na prática, são outros quinhentos, ou como diz o ditado: “Na teoria, não existe diferença entre teoria e prática. Na prática, existe.” O ensaio é um texto curto com uma reflexão profunda, deixei o link aqui e recomendo fortemente.

Quando disse que perdi tudo (no parágrafo anterior), na verdade, me referia ao que achava que estava sob minha ilusão de posse: um lugar, pessoas, emprego, tudo que amava… Hoje, em outra cidade, com outras pessoas e sem emprego (risos nervosos), não sou o mesmo daquele tempo; a correnteza do rio de Heráclito fraturou muita coisa aqui dentro… Apesar disso, para não dizer que não aprendi nada por minha atual passagem nesse pequeno e pálido ponto azul (a Terra), me dei conta que na realidade mesmo (me parece), nunca temos nada para perder (talvez a saúde), simplesmente porque, o que temos de verdade, as experiências de nossas vidas, não são objetos aos quais podemos aplicar a noção de propriedade. No fundo, no fundo, até podemos dizer que temos dias difíceis, mas na observação concreta da nossa realidade, dias difíceis vão e vem, assim como os dias bons; o que podemos fazer é rever nossas maneiras de lidar e como deixamos nos afetar por elas, nossas experiências (e aproveitar os dias bons, claro!).

Hoje, ainda sinto muita falta das birras de minha mãe, que devolveu seus átomos ao universo em 2018. Escrevo sobre ela nesses textos Sobre vindas e idas…, Sobre a vida… e Sobre a importância de sonhar…. Também sinto falta dos diálogos silenciosos com meu melhor amigo, que partiu deselegantemente em 2021, escrevo sobre ele aqui Sobre amizade…. São ausências que muito me entristecem, mas voltando ao que disse sobre experiências, quando lembro das que tive a oportunidade de ter com eles, me conforta saber que essas estão guardadas em mim enquanto estiver por aqui; no meu coração, retinas e alma. Talvez por isso dizem que o tempo atual se chama presente, para a gente aproveitar como um presente deve ser apreciado, com alegria.

O tempo me parece complicado, às vezes, quanto mais lento sinto ela passar (minha licenciatura que nunca acaba), mas rápido ele parece passar para as pessoas a minha volta (todo mundo se formando) e outras, essa impressão se inverte, quanto mais lento ele parece passar para os outros, mais rápido parece para mim (os exemplos desses casos não me afetam); quase da mesma forma como o tecido do espaço-tempo se dilata (ou se contrai) a depender de nossa localização (nas proximidades do horizonte de eventos ou de outros objetos super massivos)… No final, me resta o aprendizado (umas das sensações mais incríveis que tenho a alegria de ainda conservar, além das constantes crises existenciais, risos) de que não devemos nos comparar com as outras pessoas, simplesmente porque a estrada pode ser a mesma para todos, mas com certeza o percurso é único (cada um faz sua viagem).

Escrevo esse texto hoje como esperança de lembrança para possíveis futuros esquecidos. Ultimamente e de forma furtiva, esse tempo que ainda não veio, me rouba um pouco de paz que tento manter, como o ladrão que levou, sem eu perceber, meu celular numa esquina de Olinda. Não me sinto tão bem fisicamente como antes, não estou como eu gostaria de estar, na minha Itália (que seria Alagoinhas), mas continuo na minha Holanda (que é Recife) e isso importa muito; e por isso também não posso ser ingrato! Aqui conheci pessoas incríveis (incluindo duas turmas de sexto ano e o grupo de deslocados autointitulados Namoradinhas do Sertão), fiz amizades verdadeiras, participei de projetos fantásticos (o coro Ars Canticus, o UFPE no meu quintal) e tive oportunidades que não teria se não viesse para cá. Essas mudanças me doeram (algumas ainda doem), mas venho aprendendo com elas. Por isso, parafraseando Carl Sagan, diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, fico sinceramente feliz de dividir com vocês esse mesmo piscar de olhos que chamamos de Vida!

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